Manaus (AM) – Responsável por fazer a estatística dos animais abandonados que vivem na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), o Projeto Náufragos já registrou, desde o início do mês até a terça-feira (19), cerca de 14 novos animais domésticos abandonados no setor sul da instituição.
Coordenado pelas professoras doutoras do Departamento de Parasitologia do Instituto de Ciências Biológicas da Ufam, Andrea Belém e Ana Lúcia Gomes, o Náufragos conta com a ajuda de voluntários, que são alunos, servidores e terceirizados, que ajudam a alimentar diariamente os animais, principalmente no Setor Sul do Campus (Mini-Campus).
De acordo com Andrea Belém, é perceptível o aumento do número de cães e gatos abandonados, o que, segundo a profissional, já era esperado para o mês de dezembro.
“Neste mês de dezembro, como em todos os anos, já estávamos preparados para novos abandonos, porque é um dos meses que mais abandonam animais no campus. Portanto, a percepção foi imediata, logo no início do mês. Nós do projeto nunca conseguimos flagrar ninguém abandonando animais. Se o tivéssemos feito, teríamos denunciado”,
comentou a professora doutora.
É essencial ressaltar que maltratar cães e gatos é crime, previsto na constituição brasileira. Segundo o advogado Wesley Brandão, o abandono de animais domésticos também é visto como maus-tratos, implicando na punição da pessoa.
“Em 2020, com a aprovação da Lei Federal 14.064/20, teve-se o aumento da pena de maus-tratos. Nesses casos, o ato de abandonar animais acaba sendo enquadrado nessa tipificação, com a reclusão de dois a cinco anos, multa e proibição da guarda quando se tratar de animais pets”,
pontuou o advogado.
Projeto Náufragos
Desde 2021, o projeto reúne dados sobre os abandonos no campus, visando conscientizar a administração superior sobre o grave problema que a universidade enfrenta na área de preservação ambiental, que também se trata de patrimônio público ambiental.
Infelizmente, muitas pessoas confundem o propósito do projeto e acabam pedindo ajuda para que os voluntários façam resgates de animais abandonados na instituição.
“O projeto Náufragos não é ONG, o projeto Náufragos não tem abrigo, o projeto Náufragos não faz resgate de animais. Porém, as pessoas fazem questão de não entender, insistem em nos procurar e pedir para fazermos resgates de animais que são jogados dentro do campus. E insistem em vir ao campus da Ufam para abandonar animais domésticos e não há fiscalização para coibir este crime”,
denunciou a professora doutora Andrea Belém.
Para tentar ajudar os cães e gatos, os voluntários se mobilizam para dar comida e vacinar os animais que vivem no entorno dos blocos estudantis. A alimentação ocorre de forma diária, sempre prezando por rações de qualidade para prevenir problemas de saúde futuros.
“Os animais são alimentados todos os dias com ração de qualidade para evitar que adoeçam ou que se alimentem da fauna desta área ambiental. São animais domésticos e a caça não é a principal forma de obtenção de seu alimento. Os gatos não comem ração colorida para evitar problemas de pele e problemas urinários, o que levaria a mais gastos com tratamentos veterinários”,
descreveu Belém.
A iniciativa atualmente está recebendo a doação de ração física ou através de PIX. Mensalmente, são necessários 40 a 50 quilos de ração seca para os gatos e 20 quilos para os cães, que são custeados com os recursos do projeto ou com recursos próprios.
“Aceitamos doações de ração, desde que sejam de qualidade e não sejam coloridas. Por exemplo, para os gatos: Catchow, GranPlus, Golden e outras. Para os cães: Granplus e Golden Seleção Natural (raça média a grande)”,
salientou Andrea Belém.
Os participantes do projeto reivindicam medidas da reitoria da Ufam para que o abandono dos animais deixe de ser recorrente no espaço.
“A Ufam é uma autarquia pública. Ela tem uma reitoria que é a Administração Superior da Universidade. Entendemos que a Ufam é quem deve tentar resolver esse problema. Cabe à Ufam coibir a recorrência do crime de abandono de animais nas suas dependências. O projeto Náufragos não vai resolver nada. Podemos sugerir soluções, mas é preciso o apoio institucional da Ufam e isso não existe”,
finalizou a profissional.
Falta de controle
A equipe do Em Tempo entrou em contato com a Ufam para questionar as ações em relação ao abandono dos animais e a assessoria informou que diante das informações que receberam da segurança, são pessoas do entorno ou de outras partes da cidade que abandonam os animais na Ufam. Segundo a instituição, não há como ter o controle de entrada dos carros dentro da universidade, já que não tem como abrir carro por carro para verificar se estão trazendo animais para serem abandonados na Ufam.
De acordo com a assessoria, os animais domésticos não são bem-vindos no campus, porque eles não fazem parte do habitat, o que gera preocupação. As pessoas alimentam os animais por compaixão, isso é inquestionável, mas eles não fazem parte do habitat que é a APA (Área de Proteção Ambiental) da Ufam.
Por fim, a universidade ainda salienta que certo momento, a Ufam tentou parceria com ONGs, através de uma comissão criada em 2020, para que essas organizações coletassem e colocassem os animais para a adoção, mas, mesmo com a campanha de conscientização, as pessoas passaram a abandonar ainda mais na instituição.
No site da universidade, há um banner pedindo para que a população não abandone os animais dentro do território da Ufam.
Joana Darc destaca ações voltadas para os protetores da causa animal no Amazonas
Animais domésticos poderão receber microchipagem no AM
Em nove meses, mais de 70 animais são resgatados em situação de maus-tratos em Manaus